Seu futuro virtual

Estamos todos mais ou menos de acordo que o futuro do planeta é sombrio, certo? Os pessimistas crêem que não há saída, que os mares vão subir e que vai faltar comida e água; os otimistas acreditam em mudanças de atitude, no controle das emissões carbono e da explosão populacional. Nem estes, porém, chegam ao ponto de achar que vai ser moleza.
Mas se o mundo real está complicado, o virtual promete. Você não percebeu ainda? Nossa saída está lá, nos mundos paralelos, onde as árvores se multiplicam a um toque de mouse, a água é sempre limpa e onde somos quem sempre quisemos ser.
Segundo o The Industry Standard, investidores diversos puseram 184 milhões de dólares em 23 empresas voltadas a mundos virtuais apenas nos três primeiros meses de 2008. No último trimestre de 2007, o investimento total foi de 425 milhões de dólares em 15 empresas. Nos 12 meses seguintes a outubro de 2006, os investimentos somaram pouco mais de um bilhão de dólares, distribuídos por trinta e cinco empresas. Esses números não são nada desprezíveis sob qualquer ângulo.
Os universos virtuais se multiplicam e se diversificam. Existe muita vida (virtual, claro) para além do MySpace. Há naturalmente muita coisa para crianças, fregueses ideais para esse tipo de coisa, habitantes que são por natureza dos mundos paralelos.
De acordo o site Virtual World News, há hoje mais de 100 mundos virtuais em operação ou prestes a serem lançados, voltados apenas a crianças ou adolescentes. Mas há também ambientes virtuais para feiras e negócios, para mulheres, para os mais diversos projetos educacionais e de treinamento, para viagens e turismo, para ações de marketing, para esportes e jogos, para a combinação de duas ou mais dentre as possibilidades acima e, você pode imaginar, a lista segue.
Ao mesmo tempo, a opinião de pesquisadores como Michael McGuigan, do Brookhaven National Laboratory, de Nova York, é de que os mundos virtuais estão a apenas alguns anos de apresentarem realismo de imagens com qualidade fotográfica. Some-se isso às possibilidades trazidas pela evolução da mobilidade, das roupas inteligentes e da computação distribuída por ambientes, e você poderá ser tão bacana quanto quiser, no mundo que desejar, disponível quando e onde você tiver vontade.
Verdade seja dita, investe-se muito mais, hoje, em pesquisa de fontes de energias renováveis, capazes de salvar nosso universo, do que em mundos virtuais. Por exemplo, todo o investimento global em sites virtuais entre 2006 e 2007 equivale ao que apenas um país pequeno, como Portugal, despendeu no mesmo período com pesquisa de energias renováveis.
De qualquer modo, não deixa de ser irônico que, enquanto o planeta vislumbra desafios de sobrevivência gigantescos, milhões de dólares sejam gastos, todos os meses, na construção de planetas virtuais. E que a possibilidade de retorno desse dinheiro pareça ser melhor do que os voltados às energias renováveis. Ainda que, para assegurar a vida virtual nesses universos paralelos, a única coisa que não poderá faltar, de jeito nenhum, é a energia elétrica.
Por André Caramuru Aubert, um dos pioneiros em tecnologias móveis no Brasil, é consultor.

Renata Costa Elias 05/06/08